O primeiro dia de trabalhos do 32º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (CBESA) – o Congresso da ABES, que ocorreu de 21 a 24 de maio, no Expominas, em Belo Horizonte/MG, apresentou debates importantes para o setor de saneamento no país. Diversas autoridades e especialistas se aprofundaram em temas relevantes, como os desafios da regionalização, o planejamento regulação resíduos sólidos urbanos, a manutenção da matriz hídrica com adequação de efluentes e a epidemiologia baseada no esgoto.
Promovida pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, esta edição do mais importante evento de saneamento ambiental do Brasil teve como tema central “Saneamento ambiental: desafios para a universalização e a sustentabilidade”.
Os painéis foram divididos entre diálogos setoriais, sessões de câmaras temáticas e sessões com quatro eixos: esgoto, resíduos e economia circular, recursos hídricos e meio ambiente, e desenvolvimento operacional e inovação das empresas de saneamento.
O Congresso da ABES é o ponto de encontro do setor e dos sanitaristas do país e aconteceu de 21 a 24 deste mês, envolvendo a comunidade acadêmica, especialistas do setor e organizações parceiras brasileiras de outros países para discutir os temas mais relevantes em engenharia sanitária e ambiental em sua concepção mais ampla, abordando desafios, políticas públicas, soluções e tecnologia. Cliqiue aqui e confira as imagens do evento
PAINÉIS TEMÁTICOS
Ações de PDI no setor de saneamento
Eixo: Desenvolvimento operacional e Inovação nas empresas de saneamento
Eixo Desenvolvimento operacional e Inovação nas empresas de saneamento
O painel “Ações de PDI no setor de saneamento”, realizado no primeiro dia de programação temática do Congresso da ABES em Belo Horizonte, discutiu ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
As empresas concessionárias de saneamento buscam, cada vez mais, ações para o fomento ao desenvolvimento científico com a adoção de tecnologias apropriadas e à difusão dos conhecimentos gerados, bem como o aumento da eficiência na prestação do serviço, por meio de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) tecnológica do setor de saneamento. Portanto, a promoção de Programas contínuos de PDI promovidos por concessionárias de saneamento passou a ser uma realidade do setor, com resultados expressivos para a melhoria dos processos e, sobretudo para o desenvolvimento e maior capacitação dos profissionais envolvidos.
Outra consequência positiva dos Programas de PDI é o mapeamento das principais demandas de inovação do setor de saneamento, além de aproximar as empresas concessionárias do ecossistema de inovação (startups, fornecedores, pesquisadores, universidades, financiadores, investidores e outros) e fortalecer o engajamento nos desafios do setor.
Moderado por Luiz Pladevall, presidente da ABES-SP, o painel teve participação de Cristina Zuffo, superintendente de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Ronner Gondim, superintendente de Sustentabilidade da Cagece (Companhia de Água e Esgotos do Ceará), e Márcia Fragoso Soares, diretora de Desenvolvimento Tecnológico, Meio Ambiente e Empreendimentos da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais).
Para o moderador, a conversa foi bastante pertinente sobre inovação e deixou claro que, quando falamos do assunto, falamos além de inovação tecnológica. “Discutimos a importância da inovação para atingir a universalização, a importância do papel das universidades ao serem provocadas para trazer inovações e como é importante capacitar e formar novos profissionais para o setor de saneamento”, analisou Pladevall.
Já Cristina Zuffo considerou importante a existência do painel para que se possa criar parcerias com todas as empresas de saneamento, fornecedores e atores envolvidos na cadeia, para que eles entendam as necessidades e a importância da inovação. “A inovação nem sempre é uma coisa simples de ser aplicada na maioria das empresas e principalmente no saneamento, por se tratar de um setor carente. Foi só nos últimos 10 anos que começamos a empreender nessa área e novas ideias puderam se fortalecer. Por isso, todo esse eixo, e não só o painel, são de extrema importância para que possamos discutir e ajudar empresas que não se colocaram totalmente dentro inovação e adentrarem neste processo”, avaliou.
Diálogo Setorial 1: Regionalização
Atendendo ao disposto na Lei 14.026/2020, 17 estados editaram leis implementando a regionalização dos serviços públicos de água e esgoto; em outros três estados, projetos seguem em tramitação. É oportuno avaliar a implementação da gestão regionalizada e sua contribuição para a universalização e a sustentabilidade do acesso a esses serviços públicos. Por que o processo de regionalização não avançou em alguns estados? Os instrumentos de gestão regionalizada foram implementados efetivamente e de forma democrática com participação e controle social? É necessário respeitar os municípios que pretendem manter seus serviços municipais de água e esgoto. Como estão sendo elaborados os planos regionais, ferramentas essenciais para uma governança efetiva?
Para debater o assunto, o “Diálogo Setorial 1: Regionalização” reuniu Wladimir Ribeiro, advogado-sócio da Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques – Sociedade de Advogados, Paula Pollini, analista-sênior de políticas públicas do IAS (Instituto Água e Saneamento), Samanta Tavares de Souza, subsecretária de Recursos Hídricos e Saneamento Básico do Estado de São Paulo, Esmeraldo Pereira Santos, diretor de Comunicação Social da Assemae (Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento), César Silva Ramos, membro do Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento (ONDAS) e Assessor da Presidência da Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento), e Rogério Tavares, vice-presidente de Relações Institucionais da Aegea Saneamento.
A moderação foi de Marcel Costa Sanches, secretário-geral da ABES, que destacou as diferentes e complementares visões sobre o tema trazidas pelos especialistas. “Debatemos sobre a condição essencial que é a prestação regionalizada dos serviços, a prestação dos subsídios cruzados e o desafio que os estados têm para organizar a prestação de serviços e, assim, concluir o processo na regionalização como foi preconizado no Marco Legal do Saneamento, de 2020. Trouxemos diversas visões que muito enriqueceram nosso debate. Contamos com municipalistas, pessoas do setor privado, sociedade civil, especialistas, advogados e a subsecretária do estado de São Paulo, o que deixou o debate muito dinâmico”, avaliou.
Para Samanta Souza, o debate foi extremamente rico. “Através dele podemos concluir que, sem regionalização, não há universalização. E fica clara a necessidade de um debate amplo com todas as partes interessadas, municípios, estados, sociedade civil, para que se construa uma solução regional sustentável em que os interesses públicos e privados sejam considerados. Acho que essa é a maior reflexão que devemos levar, não só do painel, como do Congresso, para o nosso dia a dia na prática nos nossos estados, municípios e concessionárias”, resumiu.
Diálogo Setorial 2: Planejamento e Regulação dos Serviços de Resíduos Sólidos Urbanos
Para apresentar e discutir os principais desafios e necessidades relacionados ao planejamento e regulação dos serviços de resíduos sólidos urbanos (RSU), o Congresso ABES 2023 trouxe o “Diálogo Setorial 2: Planejamento e Regulação dos Serviços de Resíduos Sólidos Urbanos”. O encontro teve como foco as mudanças trazidas pelo novo Marco Regulatório, que impõe responsabilidades adicionais aos agentes públicos envolvidos no setor e proporcionam um ambiente propício para a ampliação do número de concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Uma das principais premissas é a necessidade de comprovação, pelos municípios, da sustentabilidade para prestação dos serviços de RSU, incluindo a destinação adequada dos rejeitos. Para tanto, a etapa de planejamento e definição da forma de prestação dos serviços requer discussões sobre a definição da forma de cobrança para garantir a sustentabilidade dos serviços.
Desta forma, o painel propiciou reflexões sobre alternativas de planejamento, rotas tecnológicas, as formas de cobrança e o papel da regulação na implementação do Novo Marco Regulatório.
Participaram da mesa Demétrius Jung Gonzales, diretor-geral da Agesan-RS (Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento) do Rio Grande do Sul, Regislany Maria Ribeiro, especialista em Regulação da Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), Yan Cattani, sócio-sênior da Pezco, e Karina Nóbrega da Silva , representante do Fundo de Apoio à Estruturação de Projetos de Concessão e PPP da Caixa. A moderação foi de Carlos Eduardo Tavares de Castro, diretor de Regulação e Novos Negócios do Grupo Águas do Brasil e representante da ABES Minas junto ao Conselho Diretor Nacional. Para ele, o painel demonstrou que existem muitas oportunidades para aprimorar essa prestação de serviço e identificar uma forma adicional de geração de recursos para esses investimentos.
“A necessidade de adotar práticas sustentáveis na destinação dos resíduos e a busca por soluções tecnológicas inovadoras foram pontos de destaque nas discussões. Além disso, a questão da cobrança foi abordada como um elemento fundamental para a sustentabilidade financeira dos serviços de RSU. Portanto, o painel representou uma oportunidade importante para os participantes compartilharem conhecimentos, experiências e perspectivas sobre o planejamento e a regulação dos serviços de resíduos sólidos urbanos. A gente poder reunir, além da Caixa Econômica, da AGESAM, outros atores que tenham enfrentado o tema de resíduos sólidos e colocado o assunto na ordem do dia, foi sensacional. Acho que foi a primeira vez que se discutiu com profundidade tarifa ao invés de taxa, a cobrança direto do usuário e não via IPTU”, destacou Carlos Eduardo.
ESG como proposta de valor nas empresas
Câmara Temática da ABES de Comunicação no Saneamento
Nos últimos anos, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) se tornou amplamente difundida no mundo empresarial, representando um conjunto de critérios utilizados para avaliar a sustentabilidade e a responsabilidade social das empresas em seus respectivos segmentos de mercado. A adoção de práticas ambientais e sociais responsáveis tem se mostrado fundamental para as empresas melhorarem sua reputação, atrair investimentos de longo prazo e garantir a fidelidade de seus clientes. Além disso, a implementação de práticas de governança eficazes contribui para a estabilidade e o crescimento sustentável dos negócios, visto que empresas que adotam práticas ambientais responsáveis podem reduzir seus custos operacionais e se diferenciar da concorrência.
O setor de saneamento básico é essencial para garantir a saúde e qualidade de vida das pessoas e, portanto, as empresas que atuam nesse setor devem adotar práticas responsáveis de ESG. No aspecto ambiental, a implementação de tecnologias limpas para tratamento de água e esgoto, redução do consumo de energia, investimentos em programas de economia circular e gestão de resíduos, são exemplos aplicáveis ao setor de saneamento. No aspecto social, as empresas de saneamento devem ter um compromisso com a inclusão social, a acessibilidade e a equidade no acesso aos serviços prestados. Isso pode incluir a promoção de programas de conscientização ambiental, acesso a tarifas subsidiadas, participação em iniciativas comunitárias e a promoção da diversidade e inclusão em suas equipes. Já no aspecto de governança, as precisam ter uma gestão transparente e eficaz, com uma estrutura organizacional clara e uma política de conformidade rigorosa. A adoção de práticas de governança responsável ajuda a garantir a sustentabilidade financeira da empresa, bem como a manutenção da confiança dos investidores e da população atendida por seus serviços.
Para discutir as melhores práticas e tendências para o tema no setor, o Congresso ABES 2023 trouxe a mesa “ESG como proposta de valor nas empresas”, reunindo André Salcedo, diretor-presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Jose Luis Inglese, presidente da AIDIS (Associação Interamericana e Engenharia Sanitária, Carla Sautchuk, diretora de Operações da Comgás, e Pedro Cardoso de Santana Filho, presidente da Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal).
Dante Pauli Ragazzi, coordenador da Câmara Temática de Comunicação da ABES, moderou os trabalhos. “O painel tratou de um tema extremamente atual, super relevante e, por isso, a Câmara de Comunicação o abraçou. Ele tem tudo a ver com comunicação, com formar bem a comunidade e a sociedade. E o resultado me surpreendeu, porque foram quatro pessoas que trouxeram novidades, depoimentos muitos bacanas e que agregam muito valor pra quem assistiu. Saio daqui muito satisfeito, ainda mais porque a ABES cumpriu seu papel que é o debate, o papel de troca de experiências e o papel de fazer o setor ambiental andar”, avaliou Dante.
Manutenção da matriz hídrica: adequação de efluentes de ETEs existentes para utilização como reúso planejado
Câmara Temática da ABES de Dessalinização e Reúso
O Brasil é o sexto país mais populoso, assim é o sexto maior potencial produtor de efluentes domésticos do planeta. Apesar da grande população, apenas 50,8% do esgoto gerado é tratado. Para melhorar esse percentual, em 2020 foi criado o Novo Marco Legal. A Lei destacou a importância do reuso de água ao mencioná-lo por oito vezes no planejamento do saneamento eficiente, estruturado e sustentável.
Internacionalmente, o reuso planejado de água é uma prática utilizada de forma segura e controlada. Por exemplo, na Namíbia, em Windhoek, 25% da água reciclada é diluída com água potável. Em Israel, 87% do efluente tratado é usado na irrigação. Na França, Grécia, Itália, Portugal e Espanha as águas servidas tratadas são usadas na agricultura irrigada. Na Austrália, Singapura, Bélgica, Inglaterra há o reuso potável indireto sistematizado. Nos Estados Unidos e na África do Sul o reuso potável indireto e direto é praticado.
Destaca-se que no Brasil, aproximadamente 1,5% do esgoto tratado é reutilizado de forma planejada, pois não houve o alinhamento do reuso de água na gestão integrada de recursos hídricos, em especial em virtude da falta de regulamentação adequada.
Para discutir sobre a adequação de efluentes de ETEs no reúso planejado, o painel “Manutenção da matriz hídrica: adequação de efluentes de ETEs existentes para utilização como reuso planejado” contou com participação do consultor internacional do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Guillermo Leon Suematsu, o diretor-comercial da Cetrel, Ivan Sant’Anna, o gerente de Operação de Esgoto da Sanasa Campinas (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento), Marcio Barbosa, e o gerente de Parcerias Público-Privadas da Cesan, Douglas Couzi.
Suematsu citou sua experiência no desenvolvimento do setor em diversas regiões, o que envolveu esforços de economia e engenharia, além da criação de uma legislação específica. A mediadora do painel e coordenadora-adjunta da Câmara Temática de Dessalinização Reúso da ABES, Karina Alencar, reforçou a importância desse tripé para que haja o uso e a dessalinização no Brasil.
“Percebemos que é importante trabalharmos com um plano de negócios. Não é porque somos um país que tem muita quantidade de água potável que não temos oportunidades para o desenvolvimento do setor. É importante traçarmos planos de negócios e um planejamento para que esses projetos sejam implementados”, explicou Karina. Ela salientou ainda a necessidade de engenharia e economia trabalharem juntas, para que esses projetos sejam comercializados em termos industriais.
A questão de uma legislação que regule o setor também foi levantada como primordial. “É preciso que a ABES participe no desenvolvimento dessa legislação e atue muito forte. Estamos trabalhando nisso e as pessoas entenderam essa necessidade. Existe essa demanda para darmos segurança jurídica e aplicar no mercado”, concluiu Karina.
Saneamento integrado em áreas de ocupação informal/áreas de risco
Já o painel “Saneamento integrado em áreas de ocupação informal/áreas de risco” recebeu Maria Teresa Fedeli, técnica da Secretaria de Habitação do Município de São Paulo, Antônio Miranda, especialista em saneamento, Claudius Vinícius Leite Pereira, diretor-presidente da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), e Márcia Nascimento, da assessoria CPLA da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo.
Mediado pela presidente da ABES Seção Pará, Vanessa Souza Alvares de Mello, o encontro mostrou como a presença de profissionais das mais variadas áreas é essencial para o avanço das discussões sobre o tema. “A participação de especialistas dos entes municipais e estaduais, com experiências diferentes e de vários estados, trouxe uma abordagem temática diferenciada em relação às áreas de risco e assuntos como a proteção de mananciais”, avaliou Vanessa, que destacou ainda a importância do diálogo final “mais provocativo” entre os convidados. “Foi um momento mais reflexivo, que nos auxiliou na absorção do conhecimento e trouxe essa ligação entre todas as apresentações que foram dadas”, resumiu.
Ao final, entre as principais dúvidas do público que esteve presente, destacaram-se o uso da fossa séptica e seu acompanhamento junto à comunidade, além do remanejamento de casas nas áreas de risco e como os governos municipais e estaduais gerenciam a situação para evitar o retorno a esses locais.
Epidemiologia baseada no esgoto: redes de vigilância e de segurança pública
Câmara Temática da ABES de Tratamento de Esgotos
Outro ponto alto do primeiro dia de trabalhos do Congresso ABES 2023, o painel “Epidemiologia baseada no esgoto: redes de vigilância e de segurança pública”.
Dentre as importantes lições aprendidas durante a pandemia de COVID-19 (por exemplo, a importância da vacinação, da tomada de decisões baseadas no conhecimento científico etc.), merece destaque o uso do monitoramento do esgoto sanitário como uma importante ferramenta epidemiológica, capaz de servir como alerta precoce para identificar e mitigar rapidamente a propagação do SARS-CoV-2 (agente causador da pandemia), bem como indicar o surgimento e transmissão de novas variantes e alertar sobre tendências de recrudescimento ou atenuação da circulação do vírus na população. À medida que a pandemia evolui para uma fase endêmica, é necessário manter programas de vigilância de águas residuais para SARS-CoV-2, bem como desenvolver métodos e ampliar os programas de WBE para inclusão de outros patógenos preocupantes. Atualmente, encontra-se em fase de concepção o Programa Nacional Brasileiro de Vigilância Sanitária com base nos Esgotos. Os esforços estão sendo liderados por equipes do Ministério da Saúde, em parceria com a ANA e o INCT ETEs Sustentáveis.
Mediado por Simone Frederigi Benassi, da Itaipu Binacional, e a coordenado por André Bezerra dos Santos, professor associado do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC (Universidade Federal do Ceará, o painel apresentou as lições aprendidas e principais resultados provenientes dos estudos conduzidos em algumas cidades do país. A metodologia, a importância dessa abordagem, a criação de redes colaborativas e as correlações com dados de saúde foram alguns dos assuntos apresentados e debatidos.
Compuseram a mesa como palestrantes Felipe Tavares, superintendente de Estudos Hídricos e Socioeconômicos da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), César Rossas Mota Filho, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); Rodrigo de Freitas Bueno, professor da UFABC (Universidade Federal do ABC); e Maria Inês Sato, gerente do Departamento de Análises Ambientais da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Durante o encontro, foram apresentados os projetos “Rede Covid Esgoto”, com César Rossas Mota Filho, e “Remonar”, com Rodrigo de Freitas Bueno. Maria Inês, que apresentou a experiência do Estado de São Paulo.
Segundo Simone, o painel cumpriu com seu objetivo e atendeu a expectativa inicial, que era apresentar a ferramenta da epidemiologia baseada no esgoto como importante fonte de informações que podem ser utilizadas para a saúde pública. “Os palestrantes apresentaram projetos, que foram exitosos durante a pandemia de Covid-19, e continuam a ter uma grande importância como fonte de informação para a saúde”, pontuou.
André Bezerra destacou que a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico vem sendo uma importante parceira e apoiadora de projetos no âmbito nacional. “Desde o início da pandemia, a ANA teve um relevante papel ajudando a estruturar o projeto de forma muito rápida. O primeiro projeto piloto apoiado pela agência foi realizado em Belo Horizonte e Contagem, junto com a UFMG. Devido ao grande êxito, foi criada uma rede de monitoramento da Covid em seis capitais: Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro. Esse projeto durou mais de um ano e meio e se encerrou agora. No momento, temos a expectativa de expandir para outros agentes patogênicos que serão monitorados e avaliados à partir dos esgotos, prevê.
César Rossas Mota Filho avaliou o painel como fundamental para reunir experiências exitosas. “Após o trabalho pioneiro iniciado pela UFMG, houve um grande interesse em utilizar o esgoto como ferramenta de monitoramento. Esse destaque permitiu que agora todos saibam do grande potencial desse monitoramento para várias outras aplicações como a detecção de outras doenças infecciosas, drogas lícitas, marcadores de câncer, diabetes, obesidade e tantas outras possibilidades para serem exploradas. Já está comprovado o impacto positivo que podemos ter ao juntar o setor de saneamento com o da saúde. O desafio agora é manter essas redes funcionando e tentar expandi-las para que o país tenha essa cobertura de monitoramento”, concluiu.
Desafio da Gestão de Gases de Efeito Estufa GEE no Saneamento
Eixo Recursos Hídricos e Meio Ambiente
O painel “Desafio da Gestão de Gases de Efeito Estufa GEE no Saneamento” teve moderação do diretor Sudeste da ABES, Nelson Cunha Guimarães.
O novo marco legal do Saneamento estabeleceu metas audaciosas de universalização de forma a promover uma grande expansão de serviços abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto e resíduos sólidos que inequivocamente promovem a melhoria da qualidade de vida das populações e desenvolvimento socioeconômico. Entretanto a expansão dos serviços de saneamento, especialmente o tratamento de esgoto e aterros de resíduos sólidos, podem impactar o meio ambiente devido ao lançamento de gases, principalmente o metano, responsáveis pelo efeito estufa e consequente mudanças climáticas que podem afetar extremamente o setor pelo aumento de frequência da ocorrência de eventos extremos. Diante disso a disseminação de conhecimento técnico e avaliação do potencial de mitigação da emissão de gases de efeito estufa (GEE) deve ser estimulado no setor através do aprofundamento da discussão técnica sobre o tema, padronização de metodologias de inventários de GEE e implementação de políticas de baixa emissão e jornadas de descarbonização.
Palestraram sobre o tema Roberta Miguel Kiska Filippini, coordenadora da Gerência de Planejamento e Desenvolvimento Ambiental da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), Natália Rodrigues Costa Flecher, especialista ambiental da Iguá Saneamento, e Cassius Notato de Sousa Freire, analista Ambiental da Unidade de Controle Ambiental da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais).
De acordo com Nelson, esse importante e atual assunto é uma discussão mundial que busca estabelecer procedimentos capazes de mitigar a emissão dos gases de efeito estufa e, consequentemente, reduzir o aquecimento global que tanto influencia nas mudanças climáticas e que afetam muito o setor do saneamento.
“Considero que o setor tem muito a contribuir com essa discussão, uma vez que os processos de saneamento são emissores de gases de efeito estufa e esse processo precisa ser discutido e internalizado de forma a melhorar a gestão dessas emissões. Até mesmo porque nós estamos em processo de ampliação dos serviços de saneamento para atingir as metas de universalização. Essa expansão certamente vem acompanhada com o aumento dessas emissões e exige a busca de ações para a descarbonização”, explicou o moderador.
“O painel trouxe importantes experiências de três empresas que já tem expertise na área (Copasa, Sanepar e Iguá) e que, inclusive, através de um grupo de trabalho, se reúnem para discutir as complexidades e os desafios relacionados a gestão dos gases de efeito estufa. O trabalho está em andamento e é de suma importância pois busca trazer algum produto que possa ser compartilhado e multiplicado junto a outras empresas do setor. Foram criados grupos de trabalho com técnicos que discutem temas relacionados a emissão. Temos reuniões e trabalhos agregando experiências desses técnicos, e buscando alternativas para esses processos e desafios que vamos ter que enfrentar nos próximos anos”, detalhou.
Roberta Miguel destacou a importância do debate para elevar a discussão sobre a descarbonização nas empresas de saneamento. Ela espera que o painel contribua para outras empresas possam fazer parte desse grupo e fortalecer a discussão. “Nesse processo, considero que desenvolvimento de parâmetros, de metodologia e uso de indicadores permite colocar todos na mesma balança, ao utilizar os mesmos critérios na hora de avaliar e mensurar as emissões”, ponderou.